terça-feira, 27 de junho de 2017

Cenas Londrinas, de Virginia Woolf

Título original: The London Scene
Autora: Virginia Woolf
Editora: José Olympio
Ano: 2017
Páginas 96
Skoob
*Exemplar recebido em parceria com a editora.
Sinopse: Um retrato da década de 1930 em Londres — e uma aula sobre como explorar a consciência da modernidade. Cenas londrinas compila seis crônicas nas quais Virginia Woolf confirma sua paixão por sua cidade natal. Virginia faz um retrato da década de 1930 ao observar o encanto da moderna Londres. Ao se deslocar para a perspectiva tanto de grandes homens quanto de cidadãos comuns, a autora oferece uma visão original, clara e atraente do movimento orgânico das ruas. Inicialmente publicado com cinco narrativas – produzidas entre 1931 e 1932 –, a este volume se soma a crônica descoberta na biblioteca da Universidade de Sussex, em 2005. É como se Virginia estivesse conduzindo o leitor por um passeio, começa nas docas de Londres, depois migra para o tumultuado comércio ambulante da Oxford Street, prossegue com um curioso giro por endereços de grandes homens – em busca de escritores ilustres. Há a contemplação das catedrais de St. Paul e de Westminster, e a visita à casa de Keats, em Hampstead. Por fim, o olhar se fixa na figura típica da mulher de classe média inglesa, para Ivo Barroso, “a visão de um microcosmo representativo de toda uma nacionalidade”.
Virginia Woolf foi uma grande escritora e editora britânica, figurando entre os maiores nomes do modernismo. Nascida em 1882, Virginia teve uma vida de altos e baixos, pois sofria de transtorno bipolar. Entre suas obras mais conhecidas estão Mrs. Dalloway, Ao Farol e Orlando. Sua força literária é impressionante e seus livros de ficção são aclamados pela crítica, mas a Virginia ensaísta, cronista e contista ainda é desconhecida por muitos.

Cenas Londrinas é um livro que reúne textos da autora escritos de 1931 a 1932, e que não são bem contos, nem crônicas, e talvez ensaio seja o mais perto de um gênero que irei chegar para descrever tais textos.

Esses ensaios descrevem uma Londres com diferentes faces. No primeiro texto, intitulado "As Docas de Londres", somos guiados a uma cena onde os navios mercantes sobem o Tâmisa e ancoram no porto da cidade, trazendo produtos de diversas partes do mundo. Um lugar lamacento, com armazéns e estabelecimentos de aparência decrépita. Aqui vemos o sujo de Londres, com lixo nas águas do rio, e como as pessoas parecem indiferentes com aquela paisagem enquanto rumam para outro lugar.

No segundo texto, intitulado "Maré da Oxford Street", essa crueza das docas passa por uma transformação e chegamos então ao comércio, onde as mercadorias trazidas pelos grandes navios são aguardadas com grande ansiedade e interesse por aqueles que as consomem, seja lã, tecidos, perfumes ou temperos. Aqui vemos um lugar barulhento, com vendedores tentando empurrar produtos aos seus clientes e esses últimos tentando barganhar o menor preço pelo produto. Mas Virginia encontra beleza nessas paisagens, tentando observar de outro ângulo e enxergando então flores, um belo pôr do sol e outras cenas de fascínio; para, logo depois, voltar a descrever a decrepitude, sujeira e bagunça das ruas.

Esses dois textos se complementam e dialogam entre si; ambos refletem a parte feia da Londres da década de 30 e fazem um retrato descritivo e conclusivo dos ambientes que observam.
"O encanto da Londres moderna é ser construída não para durar, é ser construída para passar. Sua fragilidade, sua transparência, seus ornamentos de estuque colorido causam um prazer diferente e atingem um objetivo diferente do desejado e tentado pelos velhos construtores e seus patronos - a nobreza da Inglaterra."
Em "Casas de grandes homens" temos um texto dedicado e apaixonado sobre algumas casas de grandes figuras literárias, como Charles Dickens e John Keats, descrevendo desde a arquitetura à vida levada dentro dessas construções, com retratos de seus habitantes.


No quarto texto aqui presente, intitulado "Abadias e Catedrais", a autora descreve com saudosismo as construções mais antigas de Londres, e como as ruas e vielas eram mais livres, tanto de casas e muros como de pessoas, que agora se acotovelavam pela falta de espaço.
"Onde então ir-se em Londres para encontrar paz e a certeza que os mortos dormem e descansam em paz? Londres, afinal de contas, é uma cidade de túmulos."
Mesmo com esses temas mais reflexivos e saudosistas, a autora consegue encontrar brechas para falar apaixonadamente da cidade que tanto amou em vida.

No texto "Esta é a Câmara dos Comuns" Woolf discorre sobre disputas de classe e política, abordando esses temas com sagacidade. Nesta cena podemos encontrar um pouco de humor negro nas descrições da autora.


"Retrato de uma londrina", último texto aqui presente, foi encontrado só em 2005 e incluído então nesta  edição, e o único a ter um personagem em destaque, a Mrs. Crowe, uma senhora que sobrevive de escutar sobre a vida dos outros pelos seus amigos e vizinhos e que quase nunca deixava sua residência.
"Por tempos imemoriais, Londres tem estado ali, uma cicatriz mais e mais profunda naquela extensão de terra, cada vez mais inquieta, encaroçada e tumultuada, marcada de modo indelével."
Essa foi uma leitura envolvente e muito rica, e não poderia apontar um ensaio favorito, pois todos me encantaram por motivos diferentes. Não foi meu primeiro contato com a escrita da autora, pois já tinha começado a ler Orlando, um de seus romances, que darei continuidade em breve e trarei minha opinião para vocês, mas foi muito importante para mim conhecer essa outra faceta da autora.

Não encontrei erros nesta edição e indico muito a leitura na mesma, pois possui ótimos textos de apoio, iniciando com uma apresentação do poeta brasileiro Ivo Barroso.

4 comentários :

  1. Oiii tudo bem?
    Eu tenho tanta vontade de ler Virginia que você nem imagina menina, essa é uma dica bastante interessante e cativante, é um assunto um tanto polêmico que até gostaria de saber mais sobre, ótima resenha e adorei a capa!
    Beijinhos

    ResponderExcluir
  2. Olá!
    Parece ser um livro interessante, gosto de ler resenhas de livros diferentes com grandes personalidades. Gostei da conhecer um pouco e espero poder conferir em breve!

    beijos!
    http://blogdatahis.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  3. Não conhecia a autora nem a obra. Gosto de livros com contos/esnaios porque a leitura se torna mais leve as vezes..
    Gostei bastante de conhecer a obra e de sua resenha!

    Beijinhos!!

    #Ana Souza
    https://literakaos.wordpress.com/

    ResponderExcluir
  4. Oi, tudo bem?
    Não sabia que a Virginia sofria de transtorno bipolar! Nunca li nada dela, só conheço de nome mesmo, mas quando tiver oportunidade com certeza quero conhecer o trabalho dela.
    Bjs

    ResponderExcluir

Obrigada por comentar!